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MULTICOLOR

“Multicolor” é um livro para todas as idades. Na narrativa voltada ao público juvenil, duas crianças alcançam o arco-íris e encontram seus habitantes: pessoas coloridas.  Os “coloridos” resistem a se misturar, com receio de transformar o maravilhoso arco de 7 faixas de cores em um imenso borrão cinza. A narrativa fantasiosa é uma alegoria para uma narrativa adulta de fundo, que busca combater o preconceito real e a resistência à mistura de raças e de culturas, representadas respectivamente pela cor da pele e pela personalidade dos personagens. 

 

Disponível em duas opções: 1) eBook em português; 2) eBook em inglês.  

Concepção

A ideia para este livro surgiu há décadas atrás. Logo que começou a escrever ficção, a mente de Cristie extravasava de ideias. Muito porque convivia com crianças na época, seus filhos. A inspiração vinha e Cristie se esforçava para tomar nota antes que se dissipasse. Outro dia encontrou o rascunho original, escrito em uma agenda enquanto aguardava o marido no saguão da IBM, empresa em que também trabalhou. A história saiu de uma vez, afirma. A folha de papel ficou encarcerada em uma gaveta esperando que Cristie se profissionalizasse minimamente como autora para ser libertada. 

 

A verdade é que alguém havia lhe dito que somos mais criativos na juventude, e Cristie resolveu testar a teoria consigo mesma. Curioso que os jovens questionam as regras estabelecidas até entre os animais. Uma pesquisa revelou que após passarem gerações comendo mandiocas in natura, jovens primatas tiveram a ideia de banhá-las no mar e passaram a comê-las não apenas limpas, mas salgadas. Os exemplos são muitos. Talvez mereçam um livro só deles. Então, como aconteceu com outros projetos, Cristie aproveitou a criatividade da sua juventude para começar, e a responsabilidade da fase adulta para concluir o livro.

 

Relata que foi muito interessante revisitar a sua escrita do passado e se encontrar com a pessoa que foi através das lentes da pessoa que se tornou. Há alguns anos Cristie estava mais interessada na viagem ao mundo das cores; Na atualidade está mais interessada na sociedade que pretendemos ser, no combate ao racismo, ao preconceito, às posições extremadas, para citar algumas lutas que aparecem de forma sutil neste livro. Antes a fantasia era um fim em si mesma; hoje a fantasia é um meio para um algo maior, e esse algo maior faz parte de algo ainda maior: construir um mundo melhor para as próximas gerações.

Ilustrações

As técnicas utilizadas nas ilustrações foram desenho com contornos em nanquim, destacando em aquarela as cores das peles dos personagens.   A finalização foi feita em softwares de editoração gráfica.

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Trecho

   [...]

 

   - Vamos, Bárbara, depressa! Vai molhar tudo! - E as duas, mãe e filha,  apressaram-se para fechar as vidraças, recolher os brinquedos espalhados pelo quintal e a roupa pendurada no varal.

 

   O vento parecia uma vassoura varrendo tudo, suspendendo a poeira que entrava nos olhos. Com um fôlego admirável, ele soprava nas casas, nos portões, nas pedras, nas portas, nas janelas, e penetrava nas frestas como se fossem furos de uma flauta, assobiando uma música assustadora.

 

   Um estrondo se ouviu e a menina resolveu não se mexer mais, como se um mínimo gesto seu fosse capaz de fazer chover ainda mais forte. Ficou ali, debruçada na janela, observando o corre-corre na rua, a garotada a gargalhadas divertindo-se com o banho de chuva surpresa, enquanto retornavam às suas casas.

 

   Parecia que estava chovendo pedra de tanto barulho que as grossas gotas d’água faziam ao atingir as telhas. Os raios cortavam o céu, como se estivessem dividindo-o ao meio. A chuva caía feito tinta, tingindo o mundo de negro. Há muito não se via uma tempestade como aquela.

 

   - É, filha, está caindo um “pé d’água”!

 

   Então Bárbara ficou imaginando os pingos d’água em formato de pés sapateando no telhado.

 

   [...]

   [...]

    

   "Let’s go, Barbara, hurry up! It will soak everything!"

 

   Both mother and daughter hurried to close the window panes, pick up the toys scattered in the yard, and the washing hanging on the clothesline.

 

   The wind was like a broom sweeping everything, suspending the dust that came into their eyes. With an impressive breath, it blew in the houses, the gates, the rocks, the doors, the windows, and penetrated the cracks as if they were the holes of a flute, whistling a frightening song.

 

   A crash was heard and the girl decided not to move, as if a minor gesture of hers could make it rain even stronger. She stood there leaning against the windowsill, watching the agitation on the street, kids laughing out loud, enjoying the surprise rain shower before their parents called them to return home.

 

   It looked as though it was raining stones because of the noise that the thick drops of water made falling on the tiles. And the rays cut the sky as if dividing it in two. The rain was falling like ink, tinting the world black. A storm like that had not been seen in a long time.

 

   "Yes, my child, the rain is falling in sheets!"

 

   Then Barbara imagined the foot-deep water tap-dancing on the roof.

 

   [...]