Estela é uma adolescente estudiosa, prestes a ingressar na universidade, e aspirante a cantora nas horas vagas. Ao se ver chegando à idade adulta, receia que o tempo desbote as suas lembranças e, para evitar esse destino, decide registrar suas experiências em um diário. O diário seria um elo para aqueles melhores anos, porque "felizes para sempre” é o que vem antes, não depois. Juventude, época de explorar as várias dimensões da vida; época de escolher a carreira de toda uma existência, época de cultivar amigos inseparáveis, época de encontrar amores eternos e arrebatadores. Ah, o amor! Neste campo, Estela pensava que estivesse resolvida, namorando um amigo de infância, mas caminho se faz ao caminhar e, ao caminhar, outras paisagens se revelaram.
Disponível na opção: 1) eBook em português.
Quem nunca se apaixonou por um professor? Horas e horas sendo forçados a observar os mestres durante a exposição das aulas, uma hora as mentes dos alunos enxergam outros conteúdos. Depois de coletar relatos de diversas pessoas conhecidas e desconhecidas, a obra começou a se materializar como um mosaico. A passagem incluída no item Trecho abaixo, por exemplo, intitulada Déjà Vu, apesar de pertencer ao último capítulo, foi um dos primeiros a serem escritos. O Trote no início do livro foi inspirado em uma experiência real de um amigo da autora no papel do professor sendo abordado no carro, não da caloura pedindo dinheiro no semáforo, como capturado no texto. As aulas de canto foram baseadas na experiência pessoal de Cristie, como musicista amadora. Depois de meses escrevendo trechos isolados, chegou o momento de criar a linha mestra, o que se figurou em um verdadeiro desafio e um aprendizado para os próximos livros: jamais repetir esse processo. O tempo que levou para conseguir criar uma unidade a partir das partes prontas e ajustar tudo ao local da fala da personagem principal que é a narradora da história foi equivalente a recomeçar o livro do zero.
O livro é composto de oito capítulos, cada um com uma capa na versão impressa. A versão para Kindle publicada não traz as ilustrações. Por utilizar a opção reflowable, que se ajusta ao dispositivo, as imagens causavam ruído e prejudicavam a fluidez da leitura, por esse motivo foram retiradas. Os desenhos foram feitos a nanquim com apenas alguns elementos preenchidos com cor em aquarela. Os desenhos foram recortados e colados em papel colorido. Colagem de outros materiais em alguns casos, como a corda em linha dourada abaixo, um cartão que a personagem confeccionou para o seu namorado.
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O piano entoava a marcha nupcial. A igreja estava repleta de parentes e amigos. Todos de pé, admirando o meu vestido branco e o buquê exuberante de orquídeas que eu carregava. Orquídeas que havia recebido todos os dias durante aquele curto namoro.
Cada passo era uma vitória. A concentração persistente para não tropeçar e para manter o ritmo moderado da caminhada com meu pai, que me conduzia.
No altar um homem de tirar o fôlego. O terno escuro realçava a sua pele clara. A face perfeita de um modelo, queixo quadrado, nariz bem torneado, lábios finos. Os olhos azuis marejados de ternura ao fitar meu rosto. Olhar penetrante como se enxergasse o fundo da minha alma, aquela que realmente sou. Com ele, eu podia ser eu mesma. Ele me amava de qualquer forma e de todas as formas.
Aquele ser angelical agora sorria, com a minha aproximação. A cumplicidade do sentimento verdadeiro. “Não chore, não chore, não chore”, eu repetia para mim mesma.
Talvez pelo nervosismo de desfilar para uma multidão, o fato era que eu estranhamente não me recordava da nossa história. Eu me esforcei para lembrar a primeira vez que tomei ciência da sua existência. Algo provavelmente inesquecível. Nada. Quando nos conhecemos? Quando me apaixonei? Mas afinal, qual a relevância desses detalhes se eu me sentia feliz e podia ver que ele emanava felicidade?
Havia fragmentos tímidos da memória, como um sonho distante. Estavam embaralhados, de maneira que eu não conseguia diferenciar qual história pertencia a qual relacionamento. Aquele corpo glorioso poderia pertencer a qualquer outro homem que eu havia amado. O coração apertou com a sensação de que os relacionamentos se repetem com pessoas e em momentos diferentes, como um dèjá vu. Mas eu não havia me casado antes, ou havia?
De repente a invasão de um pensamento: “Se não for com você, não será com ninguém”. Aquela frase dita repetidas vezes no passado para um ex-namorado ficou latejando na minha mente, como uma maldição. Como eu podia desperdiçar um dos momentos mais plenos da minha vida com uma lembrança dessas?
Meu pai me entregou ao noivo que tomou a minha mão fria e trêmula, beijando-a. Levantou as pupilas calorosas em sua acolhida.
– Tudo isso é para mim? – perguntou ao me medir. Fique calma, sou eu que estou aqui.
Perfeito demais. Demais para ser real.
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The piano was chanting the wedding march. The church was full of relatives and friends. All standing, admiring my white dress and the lush bouquet of orchids I carried. Orchids that I had received every day during that short courtship.
Each step was a victory. The persistent concentration not to stumble and to keep up the moderate pacing of the walk with my father, who led me.
At the altar a breathtaking man. The dark suit highlighted his pale skin. The perfect face of a model, square chin, shapely nose, thin lips. His blue watery eyes were full of tenderness as he stared at my face. A piercing look as if he could see the bottom of my soul, the one that I really am. With him, I could be myself. He loved me anyway and in every way.
That angelical being now smiled, with my approach. The complicity of the true feeling. "Do not cry, do not cry, do not cry," I kept saying to myself.
Perhaps because of the nervousness of parading for a crowd, the fact was that I strangely did not remember our history. I struggled to remember the first time I became aware of his existence. Something probably unforgettable. Nothing. When did we meet? When did I fall in love? But after all what was the relevance of these details if I felt happy and could see that he emanated happiness?
There were timid fragments of memory, like a distant dream. They were scrambled, so I could not tell which story belonged to which relationship. That glorious body could belong to any other man I had ever loved. The heart squeezed with the feeling that relationships are repeated with different people and at different times, like a dèjá vu. But I had not had married before, or had I?
Suddenly the invasion of a thought: "If it is not with you, it will be with noone." That phrase said over and over again in the past for an ex-boyfriend throbbed in my mind like a curse. How could I waste one of the most full moments of my life with such a memory?
My father handed me to the fiancé who took my cold and trembling hand, kissing it. He raised his warm pupils to his welcome. "Is this all for me?," he asked as he measured me. "Stay calm, it's me here."
Too perfect. Too much to be real.
[...]